sexta-feira, 14 de outubro de 2011

A Menina Que Roubava Livros

"No fim de fevereiro, quando Liesel acordou nas primeiras horas da manhã, uma figura entrou em seu quarto. Como era típico de Max, foi o mais próximo possível de uma sombra sem som.
Perscrutando a escuridão, Liesel só pôde sentir vagamente o homem que se aproximava.
- Olá?
Nenuma resposta.

Nada além do quase silêncio de seus pés, quando ele chegou mais perto da cama e pôs as páginas no chão, junto às meias da menina. As páginas estalaram. Só um pouquinho. Uma das bordas recurvou-se no chão.
- Olá?
Dessa vez, houve uma resposta. 
Liesel não sabia dizer exatamente de onde vinham as palavras. O importante foi que chegaram até ela. Chegaram e se ajoelharam junto à cama.
- Um presente de aniversário atrasado. Olhe de manhã. Boa noite.

Por algum tempo ela vagoupara dentro e para fora do sono, já não sabendo ao certo se havia sonhado com a entrada de Max.
De manhã, ao acordar e virar-se na cama, vu as págimas descansando no chão. Estendeu a mão e pegou-as, escutando o papel encrespar-se em suas mãos de manhãzinha.
Toda a minha vida tive medo de homens que me vigiavam...
Ao virá-las, as páginas eram barulhentas, como estática em volta da hisória escrita. 
Três dias dias disseram-me... E o que encontrei ao acordar?
Lá estavam as páginas apagadas de Mein Kampf, amordaçadas, sufocando sob a tinta enquanto eram viradas.
Isso me me fez compreender que o melhor vigiador que conheci...

Liesel leu e examinou todo o presente de Ma Vandenburg três vezes, notando um traço, uma palavra diferente do pincel a cada uma. Terminada a terceira leitura, aiu da cama, da maneira mais slenciosa que pôde, e foi ao quarto de papai e mamãe. O espaço reservado junto a larereira estava vazio.
Pensando bem, ela se deu conta do que seria mesmo apropriado -ou, melhor até, perfeito- que lhe agradecesse onde as páginas tinham sido produzidas.
Desceu as escadas do porão. Viu uma fotografia emoldurada imaginária infiltrar-se na parede - um segredo silenciosamente risonho.

Embora não passasse de alguns metros, foi uma longa caminhada até suas mantas de proteção contra respingose o sortimento de latas de tinta que emolduravam Ma Vandenburg. Ela afastou as mantas mais próximas da parede, até haver um pequeno corredor por onde olhar.
A primeira parte que viu dele foi o ombro, e pela fenda estreira, devagarzinho, dolorosamente, enfiou a mão a apoia-la nele. A roupa estava fria. Max não acordou.
A menina sentiu a respiração e o ombro dele, movendo-se bem de leve, para cima e para baixo. Observou-o por algum tempo. Depois, sentou-se e se reclinou.
O ar sonolento parecia tê-la seguido.
As palavras rabiscadas dos exercícios empunham-se magnificamente na parede ao lado da escada, irregulares, infantis e doces. Ficaram olhando enquanto os dois dormiam, o judeu escondido e a menina, mão no ombro.
Os dois respiravam.
Pulmões alemães e judeus.
Junto a parede ficou O Vigiador, entorpecido e satisfeito, com um belo anseio aos pés de Liesel Meminger."

A Menina Que Roubava Livros (p. 213/214)


Juro que depois falo melhor sobre este magnífico livro em que anseio por um filme, por enquanto, ainda estou entorpecida pela segunda vez com esta passagem...

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